Nem tudo que desejamos acontece exatamente da maneira que imaginamos. O dia que assinei o reconhecimento da minha cidadania italiana não foi nem de perto como eu sonhei durante 3 anos. Este post é mais um desabafo, então não espere algo muito colorido, alegre, exultante, com fotos de viagem. Pelo contrário, é um retrato do que senti naquele exato momento.
Se você já leu os outros posts sobre a nossa ida para a Itália, deve saber o sufoco que foi e que não conseguimos sacar o nosso dinheiro no caixa do aeroproto, então viajamos com apenas 45 euros e um cartão de crédito com pouco limite disponível. Acontece que eu deveria chegar em Bérgamo e pagar o restante do serviço de assessoria que contratei para me auxiliar no processo. Era o combinado e a pessoa estava esperando por isso. E eu não poderia cumprir a minha parte.
Sinceramente, pensei em nem ir. Mas eu tinha que assinar os documentos, já havia passado do tempo. E caso não fosse, perderia as passagens e as folgas que consegui no trabalho. Decidi ir e propor que nenhum documento me fosse entregue até que eu fizesse o pagamento. Mas ela poderia não aceitar e me mandar embora, de mãos vazias. Decidi arriscar.
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Pelo menos ela se divertiu |
Senti muitas coisas quando sentei com ela e expus a situação. Mas a vergonha era a que tomava conta de mim e me fez sentir uma tristeza muito grande. Parecia que estava entrando em um buraco negro, e só queria que naquele momento alguém estendesse a mão e me puxasse de volta.
Fomos até o comune e assinamos o que era preciso. Ela não me mandou embora. Não se negou a entregar minha identidade italiana. Mas aquele momento, que havia sonhado e imaginado, o da assinatura, que eu queria eternizar na minha lembrança como uma grande vitória conquistada, foi estranho. Por um lado eu estava emocionada, mas por outro eu chorava por dentro, e não era de alegria. Era de constrangimento. Tinha um nó na garganta.
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Minha linda identidade italiana! |
Demorou um tempo para cair a ficha. No meu pensamento só existia a situação financeira. Abstrai o fato de estar ali tendo reconhecido um direito que herdei do meu bisavô. Tive que ler e reler aqueles documentos para perceber o que tinha conseguido. Mas também tive vontade de pegar o primeiro voo de volta para casa.
Felizmente, a pessoa que me assessorou foi maravilhosa e compreendeu o que havia acontecido. Tanto que me emprestou dinheiro para pagar as taxas do passaporte. Nos hospedou. Tudo ficou resolvido, voltei para casa com tudo pronto. Mas a expectativa que eu tive durante todo o tempo que batalhei para conquistar este direito, se perdeu em meio a sentimentos totalmente contrários aqueles que eu deveria sentir. E isto é algo que não tenho como recuperar.
Juli