Final do primeiro ano letivo em Madrid

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Na semana que passou as gurias chegaram ao final do primeiro ano letivo aqui em Madrid. Passou muito rápido, nem parece que há menos de um ano estávamos naquela função de fazer matrícula, comprar livros, cadernos, uniforme. E elas naquela expectativa pelos primeiros dias, como seria a recepção dos colegas e professores. Esse era o “começar do zero” para elas.

final ano letivo Madrid

No Brasil elas estavam na mesma escola desde os 4 anos. Já conheciam tudo e todos. Cresceram juntos. Conviviam com alguns colegas desde o primeiro dia de aula da pré-escola. Tinham melhores amigos. E chegaram na Espanha sem conhecer ninguém. Não falavam espanhol (exigi delas que estudassem pelo Duolingo antes de vir, perda de tempo). Nós nem sequer sabíamos em que série elas seriam matriculadas.

Já escrevi sobre o sistema de educação em Madrid neste post aqui. Com exceção da Maísa, as vagas da Elisa e Luisa só foram confirmadas na semana em que as aulas começaram. O que ajudou a aumentar a expectativa em relação ao início.

Ainda no Brasil, nós conversamos bastante sobre essa mudança. Eu disse a elas que no primeiro ano morando em Madrid não exigiria notas boas, mas sim comprometimento e esforço. O principal era aprender o idioma. Como poderia cobrar notas se elas mal iriam entender o que os professores falavam? Disse que ficassem tranquilas, que mesmo que perdessem um ano estava tudo bem. Acho que isso ajudou a diminuir a pressão natural da situação. Imagina se, além de tudo que estavam passando, de deixar amigos pra trás, o sistema de ensino que já estavam acostumadas, os pais ainda exigissem um grande desempenho escolar? O pânico seria total! Nestes momentos, acredito que o melhor é fazer com que se sintam apoiadas, compreendidas, protegidas. Foi o que tentamos fazer.

final ano letivo Madrid
Final do ano letivo em Madrid: Horta da escola

A primeira grande estranheza foi com o período letivo. Início das aulas em setembro e final em junho. Tudo ao contrário! Elas falavam com os amigos em Porto Alegre, no auge do terceiro trimestre, e elas no final das férias. Muito engraçado é que quando um chorava do outro lado que tinha que ir pra escola, elas aqui diziam que ainda estavam aproveitando o verão. Depois foi o contrário, elas aqui debruçadas nos livros e os amigos na praia! Mas no final das contas elas curtiram esta mudança.

Segunda diferença: o horário das aulas. Nada mais de ficar apenas um turno na escola. Podem dormir um pouquinho mais, sim. A aula não começa tão cedo. Mas em compensação só voltam para casa à tarde. No começo sentimos um pouco, mas com o tempo (tudo se ajeita com o tempo, não?) as gurias descobriram que pode ser legal passar a maior parte do dia na escola. E almoçar fora todos os dias não é pra qualquer um, né? Mas neste ponto eu acho ótimo. Elas tem que comer o que é servido, sem essas de não como isso ou aquilo. E o cardápio é feito por nutricionistas, super saudável e equilibrado. Melhor do que se comessem em casa!

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Final do ano letivo em Madrid: Cardápio da Mai
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Final do ano letivo em Madrid: Cardápio da Lu, com sugestão de jantar
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Final do ano letivo em Madrid: Refeitório da Mai

Terceira mudança: a série. Nós achávamos que elas teriam que fazer alguma prova de conhecimentos para saber que série iriam ingressar. Mas não. Foi pela idade mesmo. Neste caso a Elisa saiu perdendo um ano, porque apesar de ela já ter idade para entrar no terceiro ano, os tutores acharam que por ela não ser fluente em espanhol seria melhor entrar no segundo. O que no fim das contas deu na mesma, porque ela estava na metade da oitava no Brasil e entrou no correspondente a oitava aqui. Essa diferença de meses não tem jeito, acaba perdendo devido ao período de inicio do ano escolar. Ela havia começado a oitava em fevereiro em Porto Alegre e aqui recomeçou em setembro. Mas pela idade, aqui, estaria um ano na frente. A Luisa estava na quinta e pela idade era a quinta mesmo. Só começou de novo.

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Final do ano letivo em Madrid: Festa de San Isidro

Enfim, primeiro dia. A expectativa era grande de todos os lados. Elas, pelo óbvio. Eu, por receio de não se adaptarem, de não conseguirem fazer amigos, de sofrerem bullying. Aliás, acho que este é o maior medo de todos os pais. A vontade era de entrar na sala de aula com elas e ficar ali, segurando a mão. Mas não dá, né?! Então o jeito é respirar fundo e orar!

Então vamos filha por filha hahaha!

Maísa.
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Final do ano letivo em Madrid: Elisa em atividade científica na turma da Maísa

Na primeira semana ela foi feliz da vida, toda animada que estava indo pra escola. Era novidade, nunca havia frequentado creche, escolinha, nada. Era a animação em pessoa. Mas os dias foram passando e a empolgação junto. No fim da segunda semana ela começou a dizer que não queria mais ir, chorava na entrada, se agarrava em mim. Que dó!! A professora vinha, dizia que era assim mesmo, que com o tempo passava. Por duas vezes arrancaram ela dos meus braços. Eu saía da escola chorando e muitas vezes pensei em desistir. Pra que afinal deixar ela lá? Eu não estava trabalhando e podia ficar com ela. Mas também pensava que seria uma oportunidade dela se adaptar, de aprender o castelhano, que foi uma benção conseguir uma vaga pra ela naquela escola, que com o tempo ela iria gostar da escola. Demorou.

final ano letivo Madrid
Final do ano letivo em Madrid: Agora ela está feliz pois faz parte da “laguna”

Teve dias que ela ia feliz pra aula e outros que queria ficar em casa. Nos últimos meses ela começou a pedir pra ir pra escola da Luisa. Conversei com a professora dela, que conversou com ela e fez com que ela se sentisse parte da turma, parte da “laguna”. Desde então ela nunca mais pediu pra ficar em casa. Nem pra trocar de escola. Terminou o ano feliz, falando espanhol melhor que eu e se sentindo muito importante na sua turma. Ela teve sorte de ter uma professora maravilhosa, que vai seguir com a mesma turma por mais dois anos, até serem “promovidos” ao primeiro ano.

Luisa.
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Final do ano letivo em Madrid: Festinha na escola

Sabe que meu coração ficou apertadinho quando deixei ela no primeiro dia? Ela era a mais resistente à mudança. Achava que não faria novos amigos, que não conseguiria aprender o idioma, que não conseguiria tirar boas notas. Tentava tranquilizá-la, dizendo que não se preocupasse com as notas (lembram do nosso acordo?) e que com o tempo ela ia tirar de letra. Quando fui buscá-la me disse que já tinha feito uma amiga, que ficaram conversando e que ela a ajudou a entender o que os professores diziam. Na terceira semana já estava enturmada. O primeiro boletim só tinha notas altas. E os elogios dos professores eram constantes. Aqui vou reproduzir a mensagem que o tutor dela me enviou quando agradeci por todo o apoio e incentivo que ela recebeu por parte de toda a equipe, fazendo com que seu desempenho fosse acima da média para uma aluna recém chegada, sem nenhum conhecimento tanto de inglês como de espanhol (as três estudam em centros bilíngues, com aulas em inglês):

“Mira te lo digo en serio . Luisa es uno de los seres más maravillosos que me he encontrado en la vida . Esta niña llegará muy muy lejos . Es un angel ?
Pero eso se lo has enseñado tú . Nosotros solo lo potenciamos .
Sois una familia estupenda”

É ou não é pra se encher de orgulho? <3

final ano letivo Madrid

Elisa.

Por ser a mais velha imaginamos que já está mais preparada para assimilar coisas novas. E ela é a mais tranquila das três, que mais se adapta e aceita as coisas por aqui. Mas isso não quer dizer que lá no fundinho não tenha seus medos, dúvidas e inseguranças. É uma adolescente, com toda o estigma desta etapa da vida.

Ficou sabendo que havia sido aceita no instituto no primeiro dia de aula. No outro estava lá, sem saber pra onde ir. Deixei ela na porta e fiquei sentada, esperando. Pensei: vai que ela não encontre a turma, que se perca ou mesmo que tenha vontade de sair correndo. Vou esperar aqui uma meia hora. Não apareceu. Tudo certo então. Quando fui buscar ela disse: “mãe, eu me perdi. Quando achei minha sala, entrei e todo mundo me olhou. Eu pensei em sair correndo, mas achei que tu tinha ido embora” Hahahaha, mãe adivinha né!

Dizer que ela não sente falta dos amigos que deixou seria mentira. Fala com eles todos os dias. Convida pra virem passar as férias conosco e serão muito bem vindos. Mas hoje já tem novos amigos. Um de cada lugar do mundo. Está ensinando a amiga árabe a falar português. E fica me corrigindo o tempo todo no espanhol! As notas? Muito acima das minhas expectativas. Notável é a média dela. Fluente no inglês, no espanhol e aprendendo o francês.

final ano letivo Madrid

Que conclusão eu chego ao final deste primeiro ano letivo?

Que nós, pais, nos enchemos de preocupações e medos, que na verdade são um reflexo daquilo que NÓS sentimos. Mas que nossos filhos tem uma capacidade incrível de adaptação, de assimilação. De aceitar as novidades, de fazer amigos, de aprender, de crescer. Nossa tarefa é dar a eles o suporte necessário para enfrentar os desafios, deixando-os saber que estamos aqui, pertinho, pra ajudar no que precisarem. É transmitir segurança e confiança. É cobrar na medida que eles podem suportar, dentro das suas capacidades. Incentivar, estimular, elogiar e repreender quando preciso. E descobrir que eles são perfeitamente capazes!

Este post eu escrevi pensando nas muitas mães que me escrevem quase que diariamente, com os mesmos medos e anseios que eu tive quando decidimos migrar com as crianças a tiracolo, sem saber como seria e temendo que elas não fossem conseguir. Elas conseguiram!

 Beijos!!

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30 comentários

  1. Olá Juliane, estou sempre por aqui lendo os posts. Voltei neste porque não encontrei nada no seu blog falando sobre como conversaram com as meninas sobre a mudança.
    E hoje me encontro nesse dilema. Pois a minha filha é muito ansiosa e fico com receio de falar e ela sofrer na ansiedade. E não vejo com bons olhos falar em cima.
    Como fizeram com as meninas quando decidiram se mudar?

    Estou procurando experiências reais pra ter uma base de como vamos agir.

    Abs e sucesso.

    1. Oi Raphael!
      Bom, foi algo assim: “meninas, vamos morar na Espanha! Separem as coisas mais importantes que querem levar, despeçam-se dos amigos e vamos começar do zero! ” E claro, apresentamos todas as vantagens e desvantagens de uma vida em outro país. Mas desde 2012 já começamos a dizer a elas que assim que nossa cidadania ficasse pronta partiríamos. O assunto era sempre abordado com naturalidade.

  2. Parabéns pela superação em morar num País diferente…….mas os frutos viram com o tempo e ai vai valer a pena todo esse sacrificio.
    Nasci em Madrid no bairro de Puente de Vallecas e vim morar em São Paulo com 3 meses.
    Já estive por 3 vezes em minha terra natal e fiquei num hotel no bairro de Salamanca que é muito bom, chique, com um comercio muito bom e tudo perto principalmente o transporte.
    Para as pessoas que querem imigrar, o ideal é se possivel fazer um contrato temporário de aluguel para conhecer melhor a cidade e se estabelecer permanentemente num bairro que atenda todos os requisitos.
    Um grande abraço e boa sorte para las niñas……

  3. Oi, Mel!
    Muito obrigada pelo relato. Acalmou um pouquinho meu coração! Meu filho tem 12 anos e estamos planejando nossa mudança para a Espanha em breve. Mas fico apreensiva com a adaptação à nova escola. Vai entender o conteúdo? Os professores serão compreensivos? Estou muito ansiosa!
    Ah, Mel: também somos de Porto Alegre!!!

    1. Oi Silvia!
      Fico feliz em ajudar de alguma forma 🙂
      Não se preocupe, os professores estão acostumados com imigrantes, seu filho certamente não será o único. Ele vai levar um tempinho pra se adaptar, mas logo estará no ritmo dos outros!
      Felicidades e vamos marcar um chimas quando chegarem, tchê!!

  4. Parabéns pelo post, acabei de encontrá lo e já me esclareceu tantas dúvidas.
    Estou pesquisando tudo o que posso sobre Madrid, vamos chegar ai entre fevereiro e março/18 em nome de Jesus. E foi muito bom encontrar você, suas informações são muito objetivas. Tenho 02 meninos ( 08 e 15 anos ) e o que mais está me preocupando é a escola e onde morar. Não queria morar no Centro, você indica algum lugar bom para morar com crianças, com tudo perto?
    Bjs

  5. Artigo sensacional, meus parabéns Juliane. Estamos no processo de pesquisa, lendo muito, colhendo opiniões para no final de 2018 embarcarmos nessa mudança de vida.
    Tenho fé que teremos sucesso, assim como sua família teve. Será eu, esposa e filha de 10 anos completos quando formos.

    Tenho uma dúvida, quando foram levaram o histórico escolar e fizeram a convalidação para que as meninas começassem de ondem pararam no Brasil?

    1. Oi Raphael! Fico muito feliz em ajudar de alguma forma outras famílias com o mesmo projeto de vida que a nossa!
      Veja, eu até trouxe o histórico das meninas, mas somente a da Luísa pediu e mesmo assim não levaram em consideração. Elas foram matriculadas mas turmas de acordo com a idade. No fim, foi como se estivessem começando o ano outra vez, já que haviam começado no Brasil.
      Espero ter ajudado!
      Abraços

  6. Oi, Juliane! Seu post foi um alívio para mim! Estamos chegando agora em Madrid, com duas crianças (de 11 e 8 anos) bem resistentes à mudança e foi um alento saber que grande parte das minhas preocupações não passam disso mesmo. Tenho muitas dúvidas pra tirar em relação ao processo de matrícula, pois não fizemos o empadronamiento ainda (só agora conseguimos o contrato de aluguel) e as aulas já estão quase começando. Posso te mandar um email?

  7. Juli!
    Conheço pouco tuas filhas,mas sempre admirei a educação ,simpatia delas!
    Que maravilha tudo o que tu escreveu! Parabéns a todas!
    Deus continue abençoando!E Completando a boa obra que começou na vida de vocês!
    Bjssss

    1. Oi Val!! Muito obrigada! De alguma forma, vocês participaram neste processo de mudança, fazem parte desta história.
      Beijo grande! Paz do Senhor!

  8. Juli, bom dia!!
    Nossa estou super feliz em ler seus posts, são muito claro e trazem muitas informações de forma muito positiva, quero conversar mais com você sobre alguns pontos, te enviarei um e_mail, pode ser?
    Obrigada. Abraços,

    Kelly

  9. Muito bom o testemunho!!
    Eu estou buscando informações de escolas para a minha filha de 11 anos e acho muito pouca informação. Eu gostaria de tirar algumas dúvidas com você. Pode ser??

  10. Muito bom este post….Que maravailha que estão adaptadas. Realmente é uma das maiores preocupações de uma mãe, bom minha com certeza. Penso muito se terão sorte com as escolas que estarão. Se os professores as acolheram da melhor forma. Ver este post é acreditar que sim vão se dar muito bem, com carinho e apoio familiar vão tirar de letra. Agradeço a você sempre por esclarecer minhas dúvidas. Isso de perder um ano escolar já é o esperando quando se tem inicio letivos diferentes. Obrigada sempre pelas dicas e informações que são sempre muito validas. Beijos nas meninas e sorte sempre para vocês. Fiquem com Deus. Bjus, Fabi

  11. Muito bom! O Lorenzo tinha os mesmos receios da Luiza mas também se deu super bem. Só que chegamos no último trimestre e vai repetir o ano. Ou iniciar em setembro kkk

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